O casarão
que durante a década de 1940 abrigou o museu do índio está em vias de ser
destruído pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. O espaço do casarão ampliaria
a rota de saída do estádio do Maracanã e a iniciativa faz parte do conjunto obras
previstas na reforma para a Copa do Mundo de 2014. Foi anunciado essa semana,
que o governo do Estado entregará o Maracanã para concessão a despeito de toda a
nossa grana injetada ali. Na certa, a concessionária vencedora tem preocupações
maiores do que um velho casarão majestoso, mas caindo aos pedaços.
O casarão
construído em 1862 foi a sede do centro de operações do Projeto Rondon, ali o
próprio Marechal recebia os índios que chegavam de toda a parte do país. Pelas ruínas
é possível contemplar sua beleza, consta que por isso recebeu um prêmio da
Unesco por considerá-lo um dos prédios mais lindos do Rio.
Criado
como um revés político ao massacre de índios no início do século XIX, de repercussão
internacional negativa, foi durante muito tempo símbolo da luta por melhores
condições para esta população. Presenciou importantes acontecimentos, a criação
do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), depois a FUNAI, e foi o palco onde atuaram
personalidades como Darcy Ribeiro e outros tantos. Entretanto, o mais comovente
é saber que área do imóvel abrigou a tribo Maracanã e que por isso é considerada um “solo sagrado”
pelo povo indígena, conforme relata a jornalista Cecília Costa do Globo (Rio,
20/10/12). Foi a tribo que deu nome ao estádio e ao rio que passa por ali. O prédio
do museu acompanhou, sob os olhares dos índios que por ali sempre estiveram,
jogos consagrados do estádio do Maracanã.
Hoje, no museu em ruínas, setenta pessoas, índios
de várias etnias, que convivem juntos no local, vão resistir à demolição
prevista pelo governo. Os índios estão há seis anos vivendo nas ruínas e a transformaram
em um centro cultural. Agora, se impedirem a demolição, vão lutar para transformá-la
em um centro turístico.
Este
é um alerta para salvar este patrimônio público que carrega registros da nossa
história e cultura. Em defesa do prédio do museu e para contribuir com os índios
que estão residindo ali, fotografamos e filmamos para divulgação o depoimento
do índio Urutau Guajajara, que mostrou o prédio e falou da festa do moqueado,
ou festa da menina moça, que é o rito que marca a passagem à puberdade. Eles
vão reproduzir o ritual no prédio do museu, pela primeira vez fora da tribo.
Será aberto ao público nos dias 27 e 28 de outubro.