sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

No Ano Novo eu quero...

Quero a utopia, quero tudo e mais
Quero a felicidade nos olhos de um pai
Quero a alegria muita gente feliz
Quero que a justiça reine em meu país
Quero a liberdade, quero o vinho e o pão
Quero ser amizade, quero amor, prazer
Quero nossa cidade sempre ensolarada
Os meninos e o povo no poder, eu quero ver
São José da Costa Rica, coração civil
Me inspire no meu sonho de amor Brasil
Se o poeta é o que sonha o que vai ser real
Bom sonhar coisas boas que o homem faz
E esperar pelos frutos no quintal
Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder?
Viva a preguiça viva a malícia que só a gente é que sabe ter
Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida
Eu vou viver bem melhor 
Doido para ver o meu sonho teimoso, um dia se realizar

 Coração Civil, de  Milton Nascimento e Fernando Brant



...




“Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição - morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova.”
                                            (Mario Quintana)



À minha família, amigos e todos que passarem, ou não, por aqui, um feliz 2013!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Navegar é preciso, viver não é preciso...



 Os Argonautas
 (Caetano Veloso)

O Barco!
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso...
O Barco!
Noite no teu, tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco da madrugada
O porto, nada!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso
O Barco!
O automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso...




terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Yes, nós temos bananas!



A banana veio da Ásia, mas poucos símbolos representam tão bem a nação brasileira. Tem sabor adocicado de fruta tropicana, e é bonita, amarela, tem a cor alegre da Seleção Canarinho. 

 Banana-pão (?), com esse formato deve ser, essas são da casa da Maria, de Volta Redonda-RJ

 Nossas bananas são muitas. Banana é da terra, é da água, é de prata e ouro, é de maçã, é de pão e vinagre, é do mundo sobre os turbantes de Carmem Miranda, nas telas de Tarsila, e em vivas naturezas-mortas de panos de prato de qualquer cozinha brasileira. 



 
   Essas pequeninas, que cabem na palma da mão, são bananas-ouro da serra de  Angra dos Reis-RJ

Parece, mas não é uma dádiva brasileira, o mundo come banana. É a quarta maior produção alimentícia do mundo, depois do arroz, trigo e milho. Deliciosamente, a base da alimentação de muitos povos tropicais. Infortunadamente, alguns só têm banana para comer.

Banana-vinagre, que de azeda não tem nada, essas são do sítio da Márcia próximo à Rod. dos Tamoios-SP, indo para o litoral de Ubatuba-SP.
 
Yes, nós temos bananas! E elas fazem parte da alimentação brasileira, na papinha do bebê, na merenda da escola, ou da excursão, na vitamina do lanche rápido de quem vai para o cursinho depois do trabalho, na refeição: assada, cozida, frita ou no recheio do pastel. 
Bananada, bananinha, mariola, doce-de-banana, os preços já não são tão doces, banana não tem mais "precinho de banana". 

 


  Banana-prata da Serra das Araras, Piraí-RJ

Banana é doce, não precisa de açúcar industrializado, mas vai bem com mel, com aveia, na salada de fruta, no bolo cuca. Nos  quintais do interior, se não tem, já teve uma bananeira, com um coração enorme, pulsando, exentricamente ligado a uma espécie de coluna cervical.   


Coração de bananeira, ou  flor-de-bananeira (http://come-se.blogspot.com.br)


 A banana que veio de longe, mas fez morada nas encostas latino americanas das nossas serras nos presenteia com potássio, magnésio, fósforo, fibra e com vitamina B6, que contribui com a produção de norepinefrina e serotonina, neurotransmissores responsáveis pelo humor. Banana deixa a gente mais feliz!


Coração de bananeira (http://www.flickr.com/photos/adilsombrito/ 
 



 Bananeiras na Rod. Presidente Dutra, próximo a Paracambi-RJ

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Quando Ulisses voltou



Quando Ulisses voltou teve uma surpresa. A precisão náutica deveria o colocar em posição exata, deveria ele aquela altura estar bem próximo à sua terra, mas a ilha não despontava. A ansiedade o consumia, e por dentro ele sentia um fogo ardente, que lhe queimava as vísceras, como se o Deus Hefesto o quisesse punir pela pressa tardia. Já se passavam dezessete anos de sua partida.
A ilha de Ítaca esvaecida no mar Jônico, não era a mesma para Ulisses e ele não a reconhecia. Retornar tinha duas faces, a do querer e a da indecisão, por isso ele não conseguia enxergar, o que não sabia que era. No mar, era um capitão destemido, mas não havia fortaleza para decisões quando as paixões o dominavam. Ele acompanhava, com o olhar no firmamento, uma nuvem ligeira, e seguindo-a encontrou seu pensamento em Circe. Na mesma nuvem que escondia Ítaca, ele repousava a lembrança no amor que durante aquele ano viveu com a bruxa.
Com sua ânsia, também as lembranças da guerra passaram a controlar sua pulsação, durante os dez anos da Batalha de Tróia ele se tornou respeitado por sua força e artimanha. Receava deixar no passado a condecoração da vitória de arrastar Helena de volta, contra a vontade de homens e deuses prepotentes.
A lembrança do grande cavalo o envaidecia, ele, o primeiro a descer e caminhar pelas ruas de Tróia, segurando uma tocha ardente, e conduzindo o exército maltrapilho que se tornaria vitorioso graças a sua astúcia para manipular a credulidade dos troianos. A segurança que Ítaca oferecia, roubava dele a glória de ser um herói, e ele seria apenas uma lenda.
Ulisses avistou os montes azuis no horizonte, e do mar, ficou durante dias observando aquela terra estranha. Era Ítaca. A angústia o castigava mais que o Sol e lembrando dos prazeres do ócio em terras enfeitiçadas, chorou ao se sentir outro. Ulisses não era mais o mesmo. Enquanto esteve na ilha de Ogígia, sentia-se prisioneiro do amor nos braços de Calipso, desejava Ítaca, pensava em Penélope.  Com o olhar em Ítaca, prestes a alcançá-la, ele desejava o mundo, Ogígia, Calipso e o resto.
Olhava sua imagem refletida na água cristalina do mar de Ítaca, e entristecido, pensou em se jogar ao mar, mas foi impedido por um movimento brusco do barco que o lançou ao convés. Naquele momento lembrou-se do canto maravilhoso das sereias que seduziu seus companheiros para a morte. Ele presenciara tempos atrás os horrores da falta de controle próprio e seu estômago reverteu-se em náuseas ao se lembrar dos corpos boiando próximos ao barco, entregues de uma vez por todas ao mar. Ele mesmo se entregaria ao lírico se não estivesse preso ao mastro. Perante os prazeres mortais ele era tão comum quanto seu mais raso marinheiro, mas o amor de Circe o diferenciava dos outros e o salvou. Diante de Ítaca ele lamentou estar vivo sem sua tripulação, em seu pensamento o canto lírico das sereias se confundia com o chiado do mar. No desespero ensurdecedor desejou paz, e neste momento decidiu voltar para Penélope.
Quando Ulisses voltou, Penélope não o podia reconhecer. Faltava nela o brilho que havia deixado anos atrás. Percebeu nela as mãos castigadas, os dedos deformados e a juventude comprometida. O tear foi seu aliado na ansiedade, que ela havia transformado em esperança, e depois, em nostalgia. Ela estava presa na nostalgia da partida de Ulisses e ele teve pena dela. Ulisses voltou para casa.
Quando Ulisses voltou, percebeu que seu grande inimigo sempre esteve muito perto. Tinha que lutar consigo, o que queria encontrar estava dentro de si e precisava ser vencido.
...


...haverá continuação

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A Resistência





Ernesto Sabato: A Resistência  (página 23)




"O destino, como tudo que é humano, não se manifesta em abstrato, mas encarna numa circunstância, num pequeno lugar, num rosto amado ou num nascimento pobre nos confins de um império.
Nem o amor, nem os encontros verdadeiros, nem mesmo os profundos desencontros são obra do acaso, e sim algo que nos está misteriosamente reservado. Quantas vezes na vida me surpreendeu a maneira como, entre multidões de pessoas que existem no mundo, acabamos encontrando aquelas que de algum modo possuíam as tábuas do nosso destino, como se pertencêssemos a uma mesma organização secreta, ou aos capítulos de um livro! Nunca pude saber se reconhecemos essas pessoas porque já as procurávamos, ou as procuramos porque elas já rondavam nosso destino."





A Resistência/ Ernesto Sabato; tradução Sérgio Molina - São Paulo: Companhia das Letras, 2008.