sábado, 23 de março de 2013

Mensagem ao Daniel sobre o Museu do Índio



Caro Daniel, 

Concordo que há algum oportunismo com relação às pessoas envolvidas no caso do museu, entendi bem seu posicionamento. Entretanto gostaria de dizer que há algo mais profundo e além da questão da invasão por estes índios, e agora, dessa desocupação, há uma questão histórica e cultural forte. 
Em 1908, houve denúncias no XIV Congresso de Americanistas em Viena de massacres genocidas a povos indígenas ocorridos no Brasil, depois disso o governo brasileiro “ficou mal na fita” e dentre as medidas tomadas para reverter a má impressão criou o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) que funcionou ali. Também ali o Marechal Rondon recebia pessoalmente os índios que vinham de várias regiões do Brasil para o Rio de Janeiro, durante muitos anos foi a casa dele, e os índios se alojavam no terreno durante a estadia. Depois o Darcy Ribeiro realizou estudos no prédio, e estruturou o museu do índio, que foi o primeiro da América Latina. Pode, para nós, não ser um solo sagrado, por nossa auto-desvencilhação dos laços sanguíneos, mas certamente é consagrado pela nossa história.
Em 1982 o museu, sob protesto, foi transferido para Botafogo, por causa das obras do metrô (saiu uma matéria sobre isto, na época, no Estadão (SP)). O prédio foi doado à União pelo Duque de Saxe, genro de D. Pedro II, para criação do centro de investigação da cultura indígena muito antes de tudo isso.
Descordo de você caro Daniel, que seja um casebre horroroso, o prédio está degradado, mas é lindo. Foi considerado um dos prédios mais bonitos do Rio e por isso ganhou um prêmio da Unesco. Tem o pé-direito muito alto e uma escada toda trabalhada em ferro dentro dele, no terreno tem uma árvore linda, com um caule com mais de 1 m de espessura.
Um espaço bacana, centenário, que não merece virar estacionamento.
Não veio abaixo em 1982, talvez por uma questão de mudança de planos, ou erro de projeto. Ou talvez fosse do interesse de alguém levar o museu para Botafogo, mais um atrativo para a Zona Sul, realmente não sei, especulação minha. Por seu valor histórico, sua beleza arquitetônica e em memória dos índios do Brasil, torço para que seja mantido, restaurado e vire um belo museu da Copa, associado a um centro de referência indígena.
Um Abraço.

Regina  




 Museu do Ìndio do Maracanã













Detalhes arquitetônicos do Museu do Índio do Maracanã acima. Os detalhes históricos esquecidos, infelizmente, não podemos observar, mas estão incrustados na memória dos que viveram e nas histórias que hoje podem ser contadas.  

O País do Futebol, que massacrou seus índios e mata continuamente sua memória, oprime seu povo e destrói seu patrimônio cultural, histórico e arquitetônico, se prepara para a Copa de 2014.