quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A fotografia de Vivian Maier


O olhar pelas lentes da Srta. Vivian Maier é comovente. A precisão com que imortalizou cada uma das cenas das cidades de Chicago e Nova York naqueles anos 50, remonta ao legado e relíquia deixada por uma grande artista. O acervo de Vivian Maier contém milhares de fotografias que trazem para os dias de hoje os encantos de uma época que ficou para trás, de cotidianos esquecidos.  São cenas impressionantes, carregadas de realismo e beleza, impregnadas de pessoas comuns. A principal motivação: o acontecimento. 

Os momentos captados pela babá artista, que viraram fotografias, revelam segundo especialistas, que além de possuir o domínio da técnica, Vivian escolhia meticulosamente o que ia fotografar e o fazia com encanto e frieza. O acervo contém também inúmeros ousados auto-retratos, inclusive da sombra da própria artista, curiosamente nunca mostrados a alguém. Sua obra foi desconhecida durante seu tempo de vida.

Todo o material fotográfico da Srta. Maier foi encontrado por acaso por John Maloof, um historiador e corretor de imóveis de Chicago, que ao descobrir o tesouro que tinha em mãos resolveu explorá-lo. Em 2011, John organizou a primeira exposição individual com as fotografias da Srta. Maier e o reconhecimento foi imediato. Depois foram lançados livros e filmes. Recentemente houve o lançamento no Brasil de "Vivian Maier: Uma Fotógrafa de Rua" [Autêntica, 136 págs., R$ 108], editado por John Maloof, com prefácio de Geoff Dyer.

Em 1958 Vivian Maier passou pelo Brasil em uma viagem de quase três meses pela América do Sul e Central. As fotografias dessa viagem estão sendo analisadas. Entre os registros que fez provavelmente deve ter imortalizado momentos e cenas do Rio, São Paulo e Amazônia por onde passou. No segundo semestre de 2016 seremos contemplados com uma exposição no MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo.

Os filmes especulam a vida solitária da babá e fotógrafa, que não se casou, não teve filhos, sem parentes ou amigos próximos. Viveu como uma sombra, escondida, roubando momentos alheios e imortalizando-os nas fotografias perfeitas. Como disse Geoff Dyer parece algo inglório, talvez cruel, mas Vivian Maier é alguém que só existe nas coisas que viu. Nesta, que parece uma história bonita carregada de tristeza, o consolo nos vem nas palavras da jornalista e roteirista Rose Lichter-Marck quando diz ter a impressão que Vivian Maier "era alguém bastante livre, que gostava de estar à margem, e que viveu a vida que quis viver".