O olhar pelas lentes da Srta. Vivian
Maier é comovente. A precisão com que imortalizou cada uma das cenas das cidades
de Chicago e Nova York naqueles anos 50, remonta ao legado e relíquia deixada por
uma grande artista. O acervo de Vivian Maier contém milhares de fotografias que
trazem para os dias de hoje os encantos de uma época que ficou para trás, de cotidianos
esquecidos. São cenas impressionantes, carregadas
de realismo e beleza, impregnadas de pessoas comuns. A principal motivação: o
acontecimento.
Os momentos captados pela babá artista, que
viraram fotografias, revelam segundo especialistas, que além de possuir o domínio
da técnica, Vivian escolhia meticulosamente o que ia fotografar e o fazia com
encanto e frieza. O acervo contém também inúmeros ousados auto-retratos,
inclusive da sombra da própria artista, curiosamente nunca mostrados a alguém. Sua obra foi desconhecida durante seu tempo de vida.
Todo o material fotográfico da Srta. Maier
foi encontrado por acaso por John Maloof, um historiador e corretor de imóveis
de Chicago, que ao descobrir o tesouro que tinha em mãos resolveu explorá-lo. Em
2011, John organizou a primeira exposição individual com as fotografias da
Srta. Maier e o reconhecimento foi imediato. Depois foram lançados livros e filmes. Recentemente houve o lançamento no Brasil de "Vivian Maier:
Uma Fotógrafa de Rua" [Autêntica, 136 págs., R$ 108], editado por John
Maloof, com prefácio de Geoff Dyer.
Em 1958 Vivian Maier passou pelo
Brasil em uma viagem de quase três meses pela América do Sul e Central. As fotografias
dessa viagem estão sendo analisadas. Entre os registros que fez provavelmente
deve ter imortalizado momentos e cenas do Rio, São Paulo e Amazônia por onde
passou. No segundo semestre de 2016 seremos contemplados com uma exposição no MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo.
Os filmes especulam a vida solitária da
babá e fotógrafa, que não se casou, não teve filhos, sem parentes
ou amigos próximos. Viveu como uma sombra, escondida, roubando momentos alheios
e imortalizando-os nas fotografias perfeitas. Como disse Geoff Dyer parece algo inglório, talvez cruel, mas Vivian Maier é alguém que só existe nas coisas que viu. Nesta, que parece uma história
bonita carregada de tristeza, o consolo nos vem nas palavras da jornalista e
roteirista Rose Lichter-Marck quando diz ter a impressão que Vivian Maier
"era alguém bastante livre, que gostava de estar à margem, e que viveu a
vida que quis viver".