Durante
o intervalo para o cafezinho no trabalho, minha amiga Angela contava sobre a formatura
da sobrinha, de como foi emocionante estar ali e ouvir os discursos e homenagens.
Suas palavras me fizeram buscar no baú empoeirado da memória o dia da minha formatura
da oitava série do primeiro grau, agora chamada nono ano do ensino fundamental.
Foi
minha única celebração de formatura, porque das outras, por motivos diversos não
quis participar, escolha que com a maturidade desabrochada, muitos anos mais tarde, ainda questiono se foi a melhor. Penso
que meu pai, que perdi poucos anos depois, teria gostado de participar da
formatura do segundo grau (ensino médio). E da faculdade, faz falta umas fotos
antigas, se não para esfregar na cara da vida, pelo menos para mostrar aos meus
pequenos daqui a alguns anos, e quem sabe, daríamos risada juntos, comentando os
modelitos da época, contando casos e coisa e tal. A mocidade tem dessas coisas,
de mandar para o inferno, tudo o que é poesia que não tem sentido no momento,
mas a oportunidade perdida é como o vento, que dá sinal soprando os cabelos, e passa.
Enfim,
fui à minha formatura da oitava série, com direito a baile no final. Fui
bonita, com um vestido branco que eu mesma desenhei para a costureira. Subi no
palco determinada, segurando meu breve discurso de oradora da turma e li com
voz trêmula o texto que escrevi.
O
texto ingênuo retrata bem que eu não tinha ideia do que a vida traria para mim
e meus amigos de bairro, mas transborda em idealismo e perseverança de uma cabeça
adolescente, cheia de sonho infanto-juvenil e perspectiva. Quando cheguei com
a folhinha datilografada nas mãos, a diretora da escola não quis aceitar, talvez
pela ingenuidade que o texto transmitia ou pela carência de formalidade, mas a
orientadora pedagógica, não permitiu que fosse descartado, disse que era espontâneo,
passava jovialidade, e o principal, tinha sido escrito por uma aluna da escola,
depois, puxou a folha da minha mão e escreveu os cumprimentos introdutórios que
faltavam com caneta vermelha.
O
tempo amarelou a folhinha do discurso e a vida desviou nossos caminhos, mudou
de rumo muitas vezes, alguns colegas sequer puderam optar por outra formatura, simplesmente
não estudaram. E quanto a mim, percebo como foi importante escrever o texto, estar
ali para receber o canudinho, a atitude da orientadora e celebrar o momento.
...
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."